Interpretando e Andando

Era de madrugada, eu estava de saco cheio de praticar as extensões do meu corpo jogando vídeo game, levantei e desliguei o aparelho peguei o controle remoto (outra extensão) e pus em um canal de tv qualquer, fui até a cozinha enchi um copo de coca-cola e me sentei novamente na frente da tv.

A Rita estava sentada na frente do computador e eu zapeava furiosamente (coisa que as mulheres não conseguem entender é como nós, homens, vemos televisão dessa maneira), quando algo muito interessante me fez parar por mais de cinco segundos em um canal qualquer.

Foi assim, como eu posso dizer, como se eu tivesse levado uma “porrada” na cara. O clip estava começando e tinha um solo de guitarra sendo tocado por Frank Zappa, até aí normal, eu ainda não tinha ligado os acordes à música, a introdução começa e surge um coral de vozes, que no vídeo é comandado por ninguém menos que Billie Holiday. E não é só isso: ouço a voz de Bono Vox, mas quem aparece na tela é.... “puta que o pariu amor, dá uma olhada nisso!!”... Louis Armstrong!

Foi assim que conhecemos o clip “Window in The Skies”, do grupo U2. Ainda sem reação a Rita senta ao meu lado e passamos a reconhecer ainda, muitos músicos que fazem até hoje parte do nosso repertório: Bob Marley, Louis Amstrong, David Bowie, Frank Sinatra (porra!), Nat King Cole, Sam Cooke (quem não lembra da abertura de Anos Incríveis?), Ozzy Osbourne, Nirvana (no acústico MTV), Paul McCartney (trecho tirado de um clip com os Beatles), Thom Yorke (Radiohead), Red Hot Chili Peppers, Elvis, Back, Elton John, Keith Richards, George Harrison, Jimmy Hendrix, Ray Charles, Sam Cook, Robert Plant, Tina Turner (novinha, até parece com a Rita Lee nos mutantes), James Brown, David Byrne, Jerry Lee Lewis (e toda sua loucura), Steve Wonder entre outros e para finalizar Frank Sinatra. Isto meus amiguinhos era um clip do U2.

Sabe aquela sensação “de que porra foi essa?” Então, foi assim que ficamos depois que passou o susto, então começamos a debater como esses caras conseguiram produzir tudo isso? Será que pegaram trechos com palavras chave e compuseram uma nova canção? Junto a isso como fazer para que as frases tivessem sentido quando fossem postas junto com o vídeo? E o lance da originalidade, como fica?

Foi depois de um bom tempo que compreendi que o que foi produzido ali foi uma obra original (mesmo misturando trechos de outros clips), o que é hibridização, com uma boa dose de escopofilia, afinal de contas todas aquelas imagens são uma “doidice” para os olhos e uma adaptação entre uma nova musica música e imagens recortadas com precisão, espetáculo, adaptadas a uma nova canção gerando uma nova interpretação.

Confuso?

Não muito mais do que nós dois naquela madrugada, juro que pensei que fosse o sono ou a coca-cola muito gelada. Mas chegamos à conclusão que era o cansaço, e que aquilo não tinha passado de uma alucinação coletiva e de muito bom gosto. Então fomos dormir o sono dos justos, pois quem sabe ao acordar algumas horas mais tarde, talvez não lembrássemos de nada.

Eduardo Guerrero