Minha letra continua igual. Foram os meus primeiros passos.
Eles (os cadernos) sempre começavam com a clássica pergunta: “qual seu nome inteiro?”, e tinham seqüência com perguntas do tipo: cor, música, cantor ou banda favoritos (as). Algumas que serviam para enriquecer o ego da dona do caderno como “o que você acha de mim?”, “deixe uma mensagem para mim” e, as mais ousadas, ainda se arriscavam a perguntar: “você é virgem?”, pergunta à qual todas as meninas respondiam com a clássica brincadeirinha “não, sou libra... escorpião, etc...”, mas os meninos, esses primatas, eram mais “sinceros” e já tinham “comido” metade da escola, todas as primas (que moram em outra cidade), algumas putas (endereço impossível de confirmar), a empregadinha da casa (na maioria dos casos, a responsável pela iniciação sexual e, lógico, não trabalha mais em casa) e se vacilar “...Tu Mamá Tambien”. Impressionante...
Eu respondi a pouquíssimos. Na grande maioria, os da minha irmã. Sempre fui gordinho e não era uma referência de “símbalo” sexual mirim. Mas o tempo, essa máquina de fazer monstros, transformou todos os “gatinhos” daquela geração em homens sérios, engravatados e mais gordos do que eu. Hoje eles estão bem diferentes, estão como posso dizer... Com a imagem um pouco distorcida!
Eu? Eu continuo sem muitas alterações. Fui redimido pelo tempo. Mas o tempo passa o tempo voa o Bamerindus já nem existe mais. Enquanto os heróis de outras gerações morriam de overdose, os meus morreram de AIDS e os poucos que existem hoje, talvez morram de depressão. Eles são tão tristes...
Mas é sempre assim: o passado é um lugar seguro. O presente é surpreendente.
Hoje minha folha de caderno é uma tela de computador, a minha letra não é mais horrível, tem um monte opções entre formas e cores, o caderninho de perguntas é o Orkut, e tem um monte de perguntas já respondidas e por incrível que pareça até os meninos tem o seu.
Quer mais? O que eu escrevo já não é mais sobre a vaca (embora tenha tentado), mudou também o lugar onde os textos ficam, não é mais um caderno com carimbos de “carinha” feliz ou triste. Agora ponho tudo em um Blog, e o professor corrige a lição de casa no conforto de seu lar. Minhas lições podem ser vistas por qualquer curioso de plantão. Quer um exemplo?
Se você “jogar” no Google uma pesquisa com as palavras-chave “Liquidificador Psicodélico”, o Blog vai aparecer como os quatro primeiros resultados na busca. O Brisa Brasil é o primeiro (pelo menos o Google sabe reconhecer a ordem cronológica das coisas e relaciona primeiro o embrião dessa parafernália toda).
Porém, não vou aqui questionar o Google, pois isso eu já fiz em minha última postagem. Minha intenção é apenas dar meu ponto de vista sobre como a Globalização modificou a relação tempo e espaço na prática da educação ou até mesmo nas pequenas brincadeiras e manias humanas. Achar a resposta de um amigo ficou bem mais fácil e rápido. Entregar as lições também. Já não sentimos por tanto tempo a ansiedade de receber cartas, recados, bilhetes ou o boletim. Tudo é muito mais fácil!
E parafraseando o professor Márcio “as coisas só tendem a piorar”. O Governo já começou, por exemplo, a pôr em prática o projeto de inclusão digital nas escolas públicas, que oferece além das salas de computação já “tradicionais”, laptops individuais para cada aluno matriculado. Os cadernos realmente parecem caminhar rumo à aposentadoria.
Eduardo Guerrero
2 comentários:
Sim, sim... Eu pirei com essa história de caderno de recordações, né??... rssss... E vc nem respondia aos meus... rsss
O que será que a próxima geração vai ter como "recordação" hein??!!...
Adoro corrigir a lição do conforto do meu lar...
E acaba de ganhar um carimbo sorrindo :-)
mais feliz???
Márcio Rodrigo
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